Em mobilidade urbana, Belém parou no tempo


Locomover-se na Região Metropolitana de Belém é um desafio árduo. Além da desproporção do volume de veículos para a quantidade e condições das vias, temos o BRT, um monumento ao desperdício e um projeto com vícios de origem, que se arrasta por quase uma década, sem planejamento e sem rumo, para complicar ainda mais os problemas de engessamento nos principais corredores de tráfego.

O jornalista Paulo Bemerguy, em seu blog Espaço Aberto, faz um relato interessante: quando jovem repórter da Rádio Clube, no fim dos anos 80, participava de uma coletiva com técnicos japoneses da JICA - Agência de Cooperação Internacional do Japão -, que encontravam-se em Belém a fim de realizar um completo estudo sobre o planejamento de tráfego na Região Metropolitana, talvez o mais completo até hoje, sob encomenda do então governador Hélio Gueiros. Quando dirigiu pergunta ao coordenador do trabalho: "E se essas obras não forem feitas em conjunto"? O japonês, de pronto, respondeu: “A nossa missão na fase de planejamento termina aqui. Caso os gestores queiram nossa assistência técnica durante a execução do Plano estaremos à sua disposição. Mas se nada do que foi planejado for executado, a cidade vira metrópole e, por volta do ano (então distante) de 2010, Belém poderá ficar "travada", pois seus atuais corredores de tráfego não suportarão mais de 200 mil veículos. " (hoje, pelas mesmas vias, circulam nada menos que 500 mil veículos).

Como o próprio jornalista descreveu, “profecia técnica de precisão nipônica”.

Em 2018 completa-se 30 anos de firmamento do Convênio de Cooperação Técnica entre o Governo do Estado do Pará e a JICA, que resultou na elaboração de um Plano Diretor de Tráfego Urbano (PDTU), feito com rigor técnico característico do povo japonês, e entregue ao Governador em 1991 (final de seu mandato). Onde, entre outras propostas de solução dos problemas de mobilidade - muito a frente do tempo, diga-se de passagem -, constavam:
• Metrô de superfície Icoaraci/Belém até o Ver-o-Peso (Teresina-PI conta com metrô desde a década de 80);
• Metrô de superfície interligando a Região Metropolitana de Belém (Ananindeua/ Marituba/Mosqueiro);
• Linha fluvial urbana Icoaraci/Belém, com terminais hidroviários na atual Estação das Docas e na UFPa;
• Linha fluvial urbana ligando as ilhas no entorno a Belém (Combu, Onças e outras) ; • Anéis viários no Entroncamento e em São Brás, eliminando cruzamentos e sinais de três e quatro tempos
• Deslocamento do Terminal Rodoviário de São Brás para a atual Rodovia dos Trabalhadores (bem pertinho do aeroporto); • Elevados nos principais cruzamentos da Av. Almirante Barroso (Júlio César, Humaitá e Lomas).

A etapa subsequente seria a de realização de estudos de viabilidade econômica dos projetos, para, posteriormente, ser solicitada a cooperação econômica do Governo Japonês. Entretanto, não se concretizaram em virtude, dentre outros fatores políticos, da descontinuidade, da extinção do Órgão estadual executor do projeto, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos - EMTU, e a consequente transferência da gestão do transporte público para o Município de Belém.

Se executado no tempo e de maneira correta, o projeto poderia ter sido de fundamental importância para tornar Belém uma metrópole moderna, evitando o calvário no qual transformou-se a mobilidade urbana na Região Metropolitana de Belém.

Em mobilidade urbana, Belém parou no tempo.

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