Incompetência ou azar?
Dilma foi incompetente ou azarada?
Em um único ponto do discurso da Presidente Dilma é preciso concordar: a culpa pela situação econômica do país não deve recair, exclusivamente, sobre suas costas. Talvez esteja no cargo errado, no momento errado. Ao ponto da bomba explodir em suas mãos.
A primeira década dos anos 2000 foi marcada por uma onda alta das commodities (minérios principalmente), proporcionada pelo crescimento acelerado da China, que transformou o superávit da sua balança comercial em infraestrutura, aumentando exponencialmente a demanda desses commodities. Esse foi um dos principais motivos do crescimento do Brasil, já que desde o descobrimento nosso país é um exportador de produtos básicos.
A onda alta de commodities teve implicações políticas importantíssimas, visto que o grande fluxo de recursos provenientes das exportações facilitou, em muito, a vida de Lula, que soube surfar a onda, depois da casa arrumada por FHC.
É inegável que o país enriqueceu durante os dois mandatos de Lula. Mas este crescimento foi sustentável? O governo petista aproveitou um período de vacas gordas para aumentar salários acima da inflação e distribuir bolsas para quase metade da população. Contudo, deixou de lado as reformas necessárias, não investiu em infraestrutura e não fez praticamente nada pela indústria. Talvez a verdadeira década perdida tenha sido a da alta dos preços das commodities e acesso facilitado às finanças. Digo perdida pela falta de aproveitamento dos recursos abundantes para a modernização da economia.
Agora, com a desaceleração do gigante chinês, o resultado disso tudo, agravado por um governo pródigo, é o que vemos e sentimos hoje: uma economia que não cresce nos últimos anos, a volta da inflação e um número de desempregados equiparado a população total de Portugal. O remédio é conhecido, mas nenhum governante quer sentir seu gosto amargo: corte de benefícios, intervenção na economia, diminuição de direitos, desenvolvimento de um ambiente seguro e favorável para investimentos privados e reestimular outros tipos de exportações, de semimanufaturados e manufaturados.
A possibilidade de um governo Temer pode representar uma oportunidade. Para isso, precisará mostrar rápido a que veio se chegar à Presidência. Pode dar um sinal de que está comprometido a ajustar a questão fiscal, por exemplo. Ou indicar uma equipe econômica forte, de confiança (dos mercados).
Qualquer que seja o resultado do processo de impeachment, teremos um ciclo de grandes de ajustes pela frente, e o que seria um problema pode virar oportunidade.
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