Quando o asfalto vira rio

Na cidade de Belém, assim como muitas outras do Brasil, existem muitos problemas urbanos causados pelo sistema de drenagem ineficiente, principalmente nos meses mais chuvosos, o chamado inverno amazônico. Estes problemas não são exclusivos das áreas periféricas da cidade, mas estes bairros na maioria das vezes sofrem ainda mais com os problemas de enchentes urbanas justamente por serem menos saneados e não disporem de estruturas de micro e macrodrenagem condizentes com as necessidades locais.

Pontos de alagamentos, por bairro

Toda nossa malha urbana cidade foi construída em cima de grandes rios e Igarapés sem um planejamento
prévio eficiente. Falhas no planejamento urbano e no gerenciamento de risco tornam o problema ainda mais grave. Os gestores públicos precisam levar em conta a tendência de aumento de chuvas nas políticas de combate às enchentes. Além disso, é importante olhar seriamente para os limites de uma engenharia urbana baseada na canalização de rios e na impermeabilização excessiva do solo.


Rede de drenagem urbana

Com o solo impermeabilizado, as águas da chuva não são absorvidas e correm direto para os canais. Se o volume de água for maior do que o dimensionado na construção do canal, há o transbordamento.

Um exemplo crônico em Belém é o cruzamento da Rua dos Mundurucus com a Travessa Alcindo Cacela, que há décadas sofre alagamentos. Das treze bacias hidrográficas de Belém, a Bacia da Estrada Nova é considerada como uma das cinco bacias mais críticas, onde as inundações frequentes alagam mais de 35% da área. O bairro da Cremação, onde o cruzamento se encontra, localiza-se justamente na bacia da Estrada Nova e possui vários outros pontos de alagamento.

Cruzamento da Tv. Alcindo Cacela com Rua dos Mundurucus, problema crônico


Em três décadas, pouco mudou


Caminhar para um modelo de ocupação do solo que permita uma convivência mais adequada da população urbana com os rios é um desafio para os gestores públicos e para toda a sociedade. Isso exigiria adotar programas de recuperação das áreas de cursos d’água, a exemplo Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte (Drenurbs), lançado em 2001, mas que acabou abandonado. O programa propunha a reintegração dos cursos d’água à cidade de Belo Horizonte, com a proibição das canalizações e a reabilitação do leito natural dos rios.

De acordo com a Prefeitura de Belém, anualmente são realizadas as limpezas e dragagem de cinco canais da Bacia do Tucunduba, incluindo o Canal da Angustura, afim de que as enchentes que afetam a população que vive às margens destes canais fossem minimizadas. Para facilitar o escoamento das águas pluvias na sub-bacia do Marco, cogitou-se a retirada de residências das margens do canal do Tucunduba, pois a deficiência no escoamento da água neste ponto provoca enchentes principalmente nos canais Lago Verde, Caraparú, Mundurucus, Gentil, União, Cipriano Santos, Santa Cruz, Nina Ribeiro, Angustura e no canal da Doida. O principal fator responsável pelo extravasamento destes canais é a redução da área útil dos mesmos, devido à ocupação irregular das margens e o acúmulo de resíduos sólidos descartados irregularmente.

Esta limpeza que Prefeitura faz anualmente nos canais, é uma medida apenas corretiva e ineficiente para controlar o problema constante de alagamentos. Sendo assim, seria necessário investir em medidas estruturais, como desocupação das áreas de risco e construção de reservatórios de contenção de cheias. Porém, é necessário planejar as medidas no sitema de drenagem em conjunto com os outros setores do saneamento: abastecimento de água, gestão dos resíduos sólidos e sistema de esgotamento sanitário. Somada às medidas estruturais citadas, a educação ambiental é um forte instrumento de medida não-estrutural que deve ser aliado ao planejamento da drenagem urbana.

P.S.: Existe um documentário interessante disponível no Youtube, chamado Entre rios, que mostra o processo de canalização de rios e córregos na cidade de São Paulo. Tem curta duração (25 min.), mas ele nos dá uma ideia das origens do problema histórico de alagamentos que, assim como a capital paulista – guardadas as devidas proporções – enfrentamos.

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