A história das mangueiras de Belém
Pelo Professor Tiago Veloso, geógrafo e pesquisador.
Ainda que se ressalte o período da Belle Époque (1890–1910) como o auge da ornamentação paisagística pelas mangueiras, a espécie é datada na cidade desde os anos 1770. Havia plantações nas propriedades de comerciantes portugueses e mesmo do arquiteto italiano Antonio José Landi.
A manga é a fruta nacional do Paquistão, da Índia e das Filipinas. Países em contato com o comércio português. A origem da palavra “manga” remonta ao tâmil “mankay” ou ao kerala, “mangga”. Os portugueses no sul da Índia adotaram “manga” e introduziram a espécie na Amazônia.
Avançando no tempo, a Belém do início do séc. XX é uma cidade em transformação. A visão do Intendente Antonio Lemos, financiada pelos capitais da borracha, é a modernidade com paisagem bucólica, representada pela natureza ornamental. O modelo são os jardins da Paris do séc. XIX.
O paisagismo da cidade é objeto de meticulosa escolha. Espécies como Amendoeira e Samaumeira são sugeridas, mas não consideradas ideais. A Mangueira as supera, por possuir, segundo a Intendência “qualidades várias: desenvolve-se com rapidez, tem altura e esgalha com regularidade”. Além disso, a mangueira “apresenta as folhagens densas e constantemente renovadas, ideais para amenizar os efeitos do clima tropical”. Dentro dos padrões de embelezamento e asseamento, a arborização indicava uma vida urbana saudável, de acordo com as preocupações sanitárias.
Um aspecto menos conhecido da escolha das mangueiras é a visão do fruto como um meio de alimento para as populações empobrecidas. Pesquisas recentes indicam que esse era um dos objetivos de Antonio Lemos, o que gerava tensões do ponto de vista das normas “civilizadas” na época. Passou a ser comum o “apedrejamento” das árvores em busca dos frutos. Em 1902, a Intendência passou a multar os apedrejadores, com expulsão imediata do infrator do parque ou jardim e detenção pela autoridade competente. Tal prática logo foi classificada como “ato de vadiagem”.
A distribuição das mangueiras por bairros centrais da cidade passou a fazer parte de sua história e construção de identidade coletiva. Permanece ainda como herança ambiental e cultural que não é igualmente distribuída pela cidade que se expandiu ao longo do tempo. Do ponto de vista da qualidade de vida, a manutenção da arborização de Bairros centrais é expressão de como a questão é tratada. Mais do que a preservação da Mangueira como traço cultural de Belém, é necessária uma política ambiental urbana para ampliar as áreas verdes da cidade.
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