O verdadeiro faturamento da Globo


A relação belicosa entre TV Globo e o Presidente Jair Bolsonaro custará à maior rede de TV do país cerca de R$ 200 milhões a menos em seus cofres neste ano. Tratada como inimiga pelo presidente da República, a Globo deverá faturar em 2019 entre R$ 150 milhões e R$ 170 milhões com campanhas de estatais e ministérios, estimam fontes do mercado publicitário e do próprio governo. O número só não será menor porque o Banco do Brasil já tinha fechado antes da posse de Bolsonaro o patrocínio do Bom dia Brasil e programa "Pequenas Empresas Grandes Negócios"

No ano passado, durante a gestão de Michel Temer, a Globo faturou R$ 400 milhões líquidos com publicidade do governo, mais que o dobro do previsto para este ano. Vale ressaltar: Temer foi bastante dispendioso nos gastos para enaltecer seus últimos meses de governo. 

Bolsonaro pode não saber, mas ainda está pagando a publicidade difundida no último ano do governo de Michel Temer. São dezenas de milhões de reais devidos às TVs abertas e outros veículos.

A despeito de tudo isso, ainda assim, a publicidade federal não representa nem sequer 5% do faturamento da TV Globo.

Em 2018, pelo segundo ano consecutivo, a Globo teve resultado operacional negativo. Isso quer dizer que os custos de suas novelas, telejornais e demais operações foram superiores ao dinheiro ganho com a venda de publicidade, sua principal fonte de receita. O que salvou a emissora do prejuízo foram os juros de suas aplicações.

Segundo balanço oficial divulgado a investidores em março, a TV Globo fechou 2018 com um resultado operacional líquido de R$ 530 milhões negativos, seis vezes mais do que os R$ 83,4 milhões negativos de 2017. Ou seja, a diferença entre o faturado e o gasto foi de quase meio bilhão de reais no ano passado.

A Globo só teve lucro graças ao seu "colchão financeiro" e ao seu patrimônio. O dinheiro investido em aplicações financeiras lhe rendeu uma receita de R$ 930 milhões. Assim, graças aos ganhos financeiros e à equivalência patrimonial, a emissora fechou o ano com um lucro líquido de R$ 1,204 bilhão, uma queda de 35% em relação ao R$ 1,851 bilhão de 2017.

Uma das explicações para essa retração é o alto custo operacional com a cobertura da Copa do Mundo da Rússia e o pagamento dos direitos de transmissão do evento. Apesar de lucrar menos, a situação do Grupo Globo ainda é bastante confortável. Seu desempenho contábil supera várias vezes o total faturado por RecordTV, SBT, Band e RedeTV! juntos.

As receitas de quase R$ 1 bilhão com aplicações bancárias em 2018 são consequência de uma decisão tomada em 2017, quando o Grupo Globo decidiu reduzir a distribuição de dividendos (lucros) aos sócios. Naquele ano, foram distribuídos apenas R$ 116 milhões, contra R$ 2,5 bilhões em 2016. No ano passado, os sócios da Globo não receberam nada. Esse dinheiro está fazendo a diferença no balanço.

Sobre a possível não renovação da concessão da emissora: apesar da ameaça do Presidente, não é o Executivo que decide sobre isso. É o Congresso. Uma eventual não renovação dependeria dos votos de dois terços da Câmara e do Senado, em votação nominal (206 e 33 votos nominais).

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