Corda do Círio chega a Belém: conheça a história desse símbolo
Símbolo da festividade chegou na
manhã desta quinta-feira (19). No total, são 800 metros de corda, sendo 400 para a Trasladação e 400 para o domingo do Círio, e, após inspeção, ficará guardada no Centro Social de Nazaré, perto da Basílica Santuário.
Antes fabricada na Paraíba, a corda deste ano veio se Santa Catarina.
Foi por um acaso que surgiu a corda no Círio. Havia chovido bastante e o trajeto que era de terra estava enlameado. Ao passar a Berlinda pelo lado da feira do Ver-o-Peso, atolou, sendo necessário arranjarem uma corda de uma das embarcações ali atracadas para atar na berlinda e puxá-la. O povo gostou da ideia e nos anos seguintes já trazia uma corda na Berlinda para qualquer eventualidade. Ela foi oficializada no ano de 1885. Com o uso da corda foram os animais dispensados. As pessoas queriam ir seguras nela sentindo-se como de mãos dadas com a Virgem de Nazaré
A maior polêmica já acontecida no Círio foi relacionada com a corda: Dom João Irineu Joffily, m 1924, assumiu a Diocese de Belém e ao assistir o Círio ficou chocado com o que viu, "Uma mistura de homens se empurrando num vai-vém nada católico". Achou mesmo a romaria muito festiva e folclórica. Então, em abril de 1926, fez divulgar uma circular fazendo várias alterações no Círio. Dizia respeito a retirada da Berlinda e a eliminação da corda. Quis transformar a romaria da alegria de estar com Nossa Senhora por uma procissão arrumadinha.
Com a decisão, sob protestos dos devotos, a imprensa se levantou de maneira forte. O jornalista Paulo Maranhão publicava cartas de pessoas influentes descontentes com a medida. Publicou fotos de procissões em diversos países onde os carros dos santos padroeiros eram puxados por cavalos, boi etc.
Apesar da onda, Dom Irineu manteve a proibição. O resultado é que no dia 10 de outubro de 1926 realizou-se o Círio mais tumultuado de que se tem notícia. A imagem de Nossa Senhora de Nazaré foi colocada em um andor e ele carregado nos ombros dos bombeiros com uma escolta de policiais em volta. Resultado: choque entre romeiros e policiais, espancamentos, pessoas pisadas por cavalos e feridas por sabres. Soldados apedrejados foi uma constante na romaria. Como Nossa Senhora é mãe por excelência, não aconteceu nenhum caso fatal.
Até que, em 1931, após assumir, o interventor Magalhães Barata pleiteia junto a Igreja o restabelecimento da corda. Sendo primeiramente negado.
Inconformado, o interventor, então, informa "que as forças do Estado não garantiriam a realização de um Círio que não fosse de acordo com as tradições populares." O que gerou grande pressão na Igreja, junto das manifestações populares, fazendo-a ceder e autorizando o retorno da corda.
Por muitos anos, ela foi montada em Belém, na extinta Fábrica Perseverança, que dominou parte da do mercado de cabos, barbantes, cordas e linhas para pesca do Brasil na primeira metade do século XX, onde hoje funciona a Faculdade Esamaz, na Rua Municipalidade
Esta que foi uma das maiores indústrias do país de então não resistiu a Belém-Brasília. Ironicamente, com a rodovia, veio a concorrência da economia de escala das indústrias do Sul/Sudeste – como a responsável pela corda deste ano. Foi desativada definitivamente em 1983.
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